Hoje irei falar sobre dois assuntos: abandono e adaptação do animal. Semana passada adotamos mais um filhote. Na verdade nem tão filhote assim, o que aumenta mais ainda minha revolta. Acharam ele na rua, magro, sujo e o pessoal do Pró-Animal me perguntou se Fabrício e eu queríamos adotar. Não pensamos duas vezes. Lindo, da raça Chartreux, puro. Eu chutei a idade dele uns dois ou três anos. Muito calmo, carinhoso e obediente. Colocamos o nome de Açaí.
Como alguém pode abandonar um animal na rua depois de conviver com o bichinho por um ou dois anos ou mais? Quando entramos em sites de adoção ou campanha, na maioria das vezes encontramos uma advertência: ao adotar lembre-se que o animal vive, em média 12 anos. Ou seja, você conviverá com esse ser por 12 anos, mais ou menos. Você será responsável por essa vida por 12 anos. Você terá um companheiro, um amigo fiel, infelizmente, só por 12 anos. E qualquer pessoa que gosta de animal sabe disso. Que eles vivem cerca de 12 anos. Por que abandona? Ou melhor, por que adota, ou compra se não tem certeza se vai querer continuar com ele quando não for mais filhotinho e não fizer mais as gracinhas? Ou quando surge a viagem de férias onde não pode levá-lo? Ou quando chega mais um animal e não pode ter os dois? Quando Fabrício e eu começamos a aventura da adoção sabíamos disso. Inclusive foi a primeira coisa que o Fabrício me falou quando decidimos. Uma covardia e tanto abandonar o animal.
A primeira noite do Açaí lá em casa ele chorou tanto, mas tanto que os nossos outros filhotes ficavam em volta o observando. Por um momento pensei: meu Deus! Esses animais irracionais são mais solidários que os humanos que o abandonaram! Bicho sofre. E gatos, diferente do que falam, são apegados aos donos sim, não só a casa. E o abandonado perde esses dois.
Além de ser uma tremenda covardia, isso também é crime. Nos EUA, quando acham um animal abandonado, a equipe de resgate caça a pessoa que o abandonou e a prende. Sinceramente não sei com funciona no Brasil, mas sei que podemos denunciar tanto abandono como maus tratos. “A principal lei que protege os animais é a Lei Federal 9.605/98, que trata dos crimes ambientais. Em seu artigo 32 ela diz que "praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos" tem pena de três meses a um ano de prisão e multa, aumentada de um sexto a um terço se ocorrer a morte do animal. São considerados maus-tratos abandonar, espancar, envenenar, não dar comida diariamente, manter preso em corrente, local sujo ou pequeno demais os animais domésticos, entre outras práticas (http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI2214446-EI306,00-Abandono+de+animais+cresce+ate+nas+ferias.html)
Lógico que todo caso há exceção. Há casos do dono realmente não poder ficar com o animal. Um motivo realmente plausível. Nesse caso o próprio dono busca ajuda para achar quem possa adotar o seu animal e não o abandona.
Toda vez que olhamos para o Açaí pensamos: quem tem coragem de abandonar um bichano como esse? É muita, muita covardia.
Bom, falando agora sobre a adaptação, graças a Deus foi tudo tranquilo. Enquanto levava o Açaí pra casa só pensava: Meu Deus, como será que os outros filhotes vão recebê-lo? Estava tão preocupada. Pensava que a Aveia ia ter outro siricutico, que o Mingau ia se magoar e não “falar” mais com a gente, que a Mel ia embora de casa. Na verdade do Fubá não pensei nada porque aquele ali qualquer prazer o diverte. Pensei também que o Açaí não ia ficar lá muito tempo, que iria fugir. Acharam ele no bairro Visconde. Eu moro bem mais longe, no Horto. Começamos a viajar.
- Miliane, já pensou se esse gato é o da mulher que mora na rua de cima, que perdeu o dela no ano passado?
- Não é não, Fabricio. O da mulher tinha o olho verde. Ele tem olho amarelo.
- Miliane, o olho dele é esverdeado. Acha que devemos ligar pra mulher e chama-la pra ver?
- Fabrício, o Açaí tem olho amarelo! E o dela era bem menor que esse. O dela era igual ao Zoe*. Esse aí é o dobro do Zoe.
- É né! Coitada, perdeu mesmo o gato dela então.
Enfim, chegamos a conclusão de que não era o gato da mulher. Mas outra preocupação me pairava a mente.
- Fabrício, e se pensarem que é o Zoe? Ele não sai lá de casa mesmo. E se acharem que pegamos o Zoe?
- Miliane, esse aí é o dobro do Zoe, não tem como a dona pensar que é ele. E Zoe tem manchinha branca no peito esse não tem.
- É verdade. Vixi! Quando Zoe o ver, vai ficar doido!
E o Açaí, que nessa hora ainda não tinha nome, só nos olhava através da gradezinha da caixa de transporte, no banco de trás do carro, ao lado da minha mãe que vinha falando: - geeeente, esse gato é enoooorme, tão quietinho, tadinho! E, às vezes, dava lá o seu miado fininho e baixinho.
Chegamos em casa, só abrimos a porta da caixa dentro de casa, com as portas fechadas pra ele não sair. Nenhum filhote o viu. Vieram brincar conosco, miaram, ronronaram, rolaram no chão, e ele quietinho ao lado do sofá. Quando o viram, Mel zarpou pra fora. Aveia foi pra debaixo da escrivaninha. Fubá, medroso que só, ficou encostado na parede, com o olho arregalado olhando, imagino que se perguntando “quem era aquele, meu! Ta doido! ” E o Mingau, lógico, rei do pedaço, ficou todo em pose de alerta, de bote, com o pescoço esticadinho, e soltando o seu “MINHÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉUUUUUUUUUU”.
E assim foi a noite inteira. Não se bateram, só miaram um pro outro. Mel e Aveia às vezes riscavam fósforo pra ele, e ele também respondia da mesma forma. Mel demorou pra chegar perto do local onde ele estava, não era nem perto dele, era do local mesmo. Se ele estava na cozinha, comendo, ela nem passava na porta da cozinha. Agora eles já ficam no mesmo cômodo. Fubá já o está lambendo, cheirando. Mingau também já chega perto, sendo que ainda solta uns miados. Aveia também o tolera, mas não tira o olho dele. E ele, esguio, calmo, sereno, responde com miados longos, mas sempre na dele. Não sei se os verei correndo pela casa porque o Açaí é realmente muito calmo, mas com certeza não demora muito para estarem todos dormindo, comendo e brincando juntos. Graças a Deus!
* Não sei se já cite o Zoe aqui. Zoe é o gato russo da Mariana, que mora duas casas acima da nossa. Lindo, ficou amigo dos meus filhotes. É o único que eles aceitam lá em casa. Brinca, dorme lá, mas só não nos deixa por as mãos. É o pai das três ninhadas lá de casa, mas não conseguiu me dar nenhum filhote igual a ele. Agora posso compará-lo ao Açaí, só que um pouco menor. Em breve escreverei um texto só sobre ele.
PS - O Açaí é tudo isso que citei no texto. Mas tem uma coisa que me chama muito a atenção. O olhar dele. É muito sinistro! Fabrício fala que, quando fechamos tudo e vamos dormir, ele toma a forma de humano. Bato nele toda vez que ele fala isso, porque me deixa com mais medo ainda (Rsrs). Segue uma foto dele e seu “olhar sinistro”.