Esses dias eu ouvi de um amigo nosso que ele não gostava de gatos porque os considerava seres falsos, interesseiros. Eu perguntei se ele já tinha tido gatos e ele disse não. Eu o entendi, porque, antes de ter os filhotes também pensava dessa maneira.
Mas é uma delícia a cada dia descobrir como os gatos são amigos e fiéis aos donos. O Mingau, por exemplo, deu pra fazer agora uma coisa inusitada! Duas vezes ele nos acompanhou até a vendinha daqui do condomínio onde moramos. A primeira vez, ele nos viu saindo e ficou olhando, no meio da rua em frente a casa pra gente descendo. Não agüentou e veio atrás, miando e andando. Nos acompanhou ao nosso lado, até quase a vendinha. Mas, como ele não estava acostumado, se assustou com um grupo de garotos, que vinham do campo, conversando, batendo bola. Deu meia volta, mas olhava pra trás, miando pro Fabrício. E Fabrício teve que levá-lo ate em casa!
Na outra vez, ele estava deitado dentro de casa, Fabrício e eu saímos pra vendinha. Ainda chamei: “Mingau, vamos?” mas não o esperamos. Quando já estávamos na rua, ele aparece pulando a janela, miando, vindo atrás da gente. Dessa vez fomos por um caminho menos movimentado e foi tranqüilo. Parava, cheirava, a gente chamava ele prosseguia.
Cortamos caminho por um morrinho e ele estranhou. Nós já estávamos em baixo, ele parou no meio do morrinho, e começou a miar, nos chamando. Não descia e também não subia pra voltar. O chamamos, com carinho, calma, e lá veio ele, descendo, com medo, mas descendo, até chegar pertinho da gente e se enroscar nas nossas pernas. Como era perto da venda e lá não pode entrar animais, Fabrício ficou com ele ali e eu fui comprar o que precisava. Lá da vendinha eu o via ganhar confiança e brincar na rua. Mas não saía de perto do Fabrício. As vezes Fabrício me apontava, mostrando ao Mingau, e ele vinha pro meio da rua, se esticava pra me olhar e voltava a brincar.
Quando voltei da venda e fui até eles, Mingau estava em cima de um muro perto, brincando. “Mingau, vamos embora?” Ele nos olhou, desceu e nos acompanhou até em casa. Chegando lá, os outros quatro estavam na porta, e ele entrou, numa pose triunfante. E os outros foram atrás dele. Imagino se não foram pra perguntar “e aí? Como foi lá? Você foi até lá embaixo, cara? Uau!” E ele, claro, contando vantagem! Ah minha imaginação com as falas deles!
Nunca vi e nem ouvi história de gatos que fazem isso. Bem que Fabrício vive dizendo que esses gatos são diferentes de todos os que ele já teve! E olha que foram muitos! Eu fiquei tão encantada com esse comportamento do Mingau, que conto toda vez que ouço alguém falar que gatos não se apegam aos donos. Acho que, na verdade, são alguns donos que não se deixam apegar!